quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Uma boa do Dr. Anúbis

Eu dava aulas em um curso de pós- graduação em Campos do Jordão. Era um curso de dois anos de Administração Hoteleira e minha disciplina era “Planejamento Físico de Hotéis”, aonde eu dava uma noção de dimensionamento de espaços, fluxo de circulações, etc. Apenas uma noção, que era para a assistência fazer uma idéia da responsabilidade que envolve o projeto e das conseqüências de uma má escolha.
Os alunos vinham de cidades da região – o vale do Paraíba – e formavam um grupo muito heterogêneo. Eram, na sua maioria, profissionais insatisfeitos em suas carreiras que procuravam no curso um embasamento teórico para montarem e administrarem um pequeno hotel no mato, uma pousadinha na praia, coisas assim.
Entre esses alunos havia dentistas, psicólogos, veterinários, arquitetos, economistas, advogados e um médico. Justamente esse médico vem a ser o personagem deste caso. Dr. Anúbis Guardião.
Um belo dia de inverno em Campos do Jordão, no intervalo de um inocente café, ele me chega, meio sem graça, e fala:
“- Bom dia, professor. Será que você teria um tempinho para tirar uma dúvida?”
E o doutor contou uma longa estória de como comprou um terreno em Caraguatatuba, do sacrifício que foi, dos sonhos que tinha, e tal e coisa. Resumindo, ele queria construir um hotelzinho e se mudar de vez para o litoral. Só que, por mais que se esforçasse e prestasse atenção nas aulas, não se sentia seguro para projetar o hotel.
“- Além de tudo, desenho mal pra burro, professor.”
Opa! O cara não tinha entendido absolutamente nada!
“Doutor! Não é que eu queira puxar a sardinha para o meu lado, mas você tem que contratar um arquiteto! Não há meio de um médico projetar um hotel! É a mesma coisa que um arquiteto operar um apêndice. Vê lá..!”
O coitado ficou meio sem graça mas entendeu. Depois disso ficamos amigos e, vira e mexe, tomávamos café juntos. Foi numa dessas ocasiões que o Dr. Anúbis me ensinou uma boa.
Eu comentava que era comum as pessoas me encontrarem em festas, reuniões de família, e pedirem conselhos sobre reformas de imóveis. Imóveis que eu nunca vira, não tinha a menor idéia de como fosse, e o cara:
“- Que é que você acha de fazer a escada meio assim?” e indicava com a mão como se desenhasse no ar.
“- Sei lá!” e a pessoa saía ofendida como se eu tivesse a pior das más vontades. Achava mesquinharia. As pessoas não entendem que um profissional não dá palpite. Sendo seu ofício, qualquer opinião envolve responsabilidade, tem que estar bem embasada, e é trabalho.
“- Faz como eu.” Ele disse. Aquela tia chega, no meio do batizado, e reclama de dor no abdômen. Que saber que remédio toma. “- Antigamente eu penava. Agora mando logo: - Tira a roupa, tia.”
“Como?!”
“Tira a roupa para eu poder examinar.”
“Mas aqui?”
“Bem, se a senhora preferir, passe no meu consultório durante a semana.”
“Ah...”
Bom, agora já sei. Me parou na rua para perguntar a respeito do telhado, se é assim ou se é assado, não titubeio.
“- Tira a roupa!”

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