quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Combina com o Bezerra

Já falei do Bezerra? Grande amigo! Grande Bezerra, com quem tenho tido o prazer de compartilhar bons momentos e ao qual, sempre que chamado, tenho socorrido com meus conhecimentos de arquitetura.
Tenho certeza que já lhes contei a respeito da casa que projetei para ele na praia. Bem, não importa. O fato é que a tal casa foi construída e este caso se deu quando já estávamos na fase de acabamentos. Como de costume, tocamos eu, o referido amigo e a Jupira, sua esposa, para curtir o sabadão numa loja de materiais para construção. Fomos ver pisos, revestimentos (que antigamente chamávamos de azulejo), louças, metais, essas coisas.
Um arquiteto numa loja dessas é como uma criança diante da cristaleira da avó. Quer ver tudo, quer mexer em tudo. Eu mesmo curto demais. A Jupira, idem. Só o marido dela é que não suporta. Vai, para não parecer que não participa, que não está nem aí. Vai a contra-gosto. Anda um pouquinho, escolhe o piso da cozinha e já acha que fez muito. Aí fala :-Pronto! Melhor deixar o resto para outro dia!
-Calma, bem, no outro dia vai ser a mesma coisa.
-Então eu vou no MacDonald’s e vocês ficam aí.
E ela com toda a paciência do mundo:- Calma, bem, já tá acabando...
Continuamos andando de lá para cá e o sujeito com a maior cara de cansado, nem levantava o queixo.
De repente, de uma hora para outra, parece que alguma coisa se acendeu dentro dele. Não que ele tivesse se interessado pelo que fazíamos, isso não. Mas era inegável uma certa euforia repentina.
-Que foi, Bezerra, gostou de alguma coisa?
-Er...bem...não sei se..
-Fala, Bezerrão!
-Não sei se vai combinar...
-Fala, homem de Deus!
-Tá vendo aquela banheira ali? Quando eu era pequeno, lá em casa tinha uma igualzinha.
Era uma banheira que imitava aquelas antigas, de ferro esmaltado. Mas não era daquelas de pezinho. Era daquelas mais simples, das que a gente tem que fazer uma base de alvenaria para embutí-la. Meio tosca, meio grosseirona. E, acreditem, a banheira era azul! E foi essa mesma que ele gostou.
-Mas, bem, não tem nada a ver com a decoração, é tão cafona, não combina com nada. Pergunta para o arquiteto, que ele te diz. Combina, por acaso? – argumentou a esposa, olhando para mim com uma cara de certeza que dava dó.
-Claro que combina, Jupira! Pode não combinar com o banheiro, mas combina com o Bezerra e, pesando os prós e os contras, é mais negócio mudar o banheiro do que trocar de marido, não acha?
Levamos a banheira.
E o Bezerra sorria de orelha a orelha, só faltava bater palmas.

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